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The name Francisco Peixoto is mentioned in a History of the Portuguese Empire paper uploaded to Academia.
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Ligado a um conjunto de acontecimentos imbricados que motivaram esta súplica paraque os missionários fossem autorizados a prosseguir as suas atividades evangélicas,não se pode deixar de considerar o contexto e problemas que se abriram com afamosa querela dos ritos chineses, nascida de conflitos e rivalidades entre osmissionários jesuítas e as ordens mendicantes. O conflito teológico contra a adaptaçãodo cristianismo chinês aos costumes locais conheceu posições extremadas, tanto naChina como na Europa, tendo tido efeitos devastadores no progresso daevangelização e na própria permanência e continuidade das missões cristãs nessecontinente.O longo desenrolar das questões levantadas com os termos e ritos inicia-se a partir de1600, com a aprovação pelo Visitador Alexandre Valignano dos termos
Shag Ti
(Deus/Governador do Alto) e
Tien Shu
(Senhor do Céu) a que Longobardo (2) seopusera e pedira o seu reexame. Sabatino de Ursis toma o partido deste, arrastando asua discussão durante os anos 20 do século XVII. Já em 1633 o Pe. Longobardo voltaa insistir
ainda, propondo a transcrição fonética das sílabas da palavra “Deus”.
A esta questão junta-se o entendimento que é feito dos ritos da piedade filial, do cultodos antepassados e das honras prestadas a Confúcio, questões que saíram da esfera jesuíta e se tornariam públicas, com a chegada de missionários de Manila. Estasdúvidas acabariam por ser postas a Roma e à
Propaganda Fide
, em 1641,incendiando os ânimos dos intervenientes nestas polémicas e casos de direitocanónico. O mais grave de todas estas dissidências entre missionários terá sido oresultado nefasto ao colocarem em dúvida, perante os chineses, a própria doutrinaque pregavam.Não sendo simples as suas razões, apesar de se conhecerem os momentos charneira,a cronologia e os factos que são mais marcantes, tanto do lado chinês como europeu,importa tentar esboçar melhor alguns dos acontecimentos ocorridos na China, emRoma ou nas nações europeias presentes que através de posições individuais ou deinstituições, direta e indiretamente, influenciaram o desenvolvimento da Questão dosRitos Chineses e se prendem com a proclamação do édito. A perca da independência e soberania portuguesa, depois do desastre de Alcácer Quibir em 4 de Agosto de 1578 veio a permitir aos missionários das ordensmendicantes, principalmente os Dominicanos e Franciscanos, a entrada na China e,consequentemente, a sua tomada de conhecimento de práticas de cultos civis ereligiosos chineses que foram postos em causa.O breve
Onerosa Pastoralis
(1600) autorizara a entrada de ordens mendicantes noJapão e ainda que esta ordem seja contrariada mais tarde pelo breve
Sedis Apostolicae
(1608), os éditos papais e reais não são observados pelos fradesmendicantes espanhóis das Filipinas, que continuadamente vão entrando na China eno Japão.Esta questão não tinha como partes apenas o Padroado Régio Português e o Papa. Arecém fundada Sacra Congregação da
Propaganda Fide,
em 1622, tenta coordenar eorientar toda a atividade missionária no mundo. Mas, após a independência dePortugal em relação a Espanha, em 1640, surgem novas situações que agravam estaquestão dos ritos chineses, que não se devem apenas à atuação dos missionários daPropaganda. A fundação, em 1658, da
Societé des Missions Etrangères
, em Paris,com o suporte do rei sol Luís XIV, interfere com a evangelização na China e complicadurante 28 anos a luta pela afirmação da independência portuguesa.Se a cúria romana toma o partido da Congregação da Propaganda da Fé e vaiadotando posições e pontos de vista idênticos aos de Espanha e França, Luís XIV vêo reforço da autoridade papal como uma ameaça ao seu próprio padroado, sem quehaja simultaneamente impedimento a que os cardeais da Propaganda e os seusaliados franceses se ponham de acordo reconhecendo que o Padroado Português nãoé capaz de converter a Ásia (3).
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Depois de um breve de Urbano VIII,
Ex debito pastoralis officii
(1633), documentopontifício que abre caminho a nova atuação nas missões cristãs no Oriente, que
Desenho do exterior da Igreja de Nan Tang em Pequim, col Arquivo histórico Ultramarino, Lisboa
autoriza a entrada dos missionários na China, sem passar por Lisboa, a situação viriaa tornar-se ainda mais aguda, para uma missão que começava já a converter e aatingir com a sua ação membros das classes letradas chinesas e mesmo na própriafamília imperial.Para além desta fronda aberta entre ordens religiosas, também os Países Baixosenviavam as suas armadas para minar o empório e o domínio do comércio com oOriente que pertencia aos portugueses, sobretudo depois da perca da nossasoberania em 1580.Macau começa a fortificar-se, para resistir aos ataques da pirataria holandesa. Oschineses vêm nisto uma tentativa dos portugueses de Macau se assenhorearem doimpério chinês, ideia que se torna cada vez mais difícil de combater, com aconstatação das fortalezas e baluartes que eram construídos em Macau.É importante notar que para justificar a desconfiança chinesa sobre as intenções dosocidentais no Continente contribuiu o facto de Portugal e Espanha se encontrarem sobo domínio dos Filipes de Espanha, entre 1580 e 1640, formando uma potência única,com domínios na América do Sul, compreendendo o Brasil, a Índia, o estreito deMalaca, Filipinas e vários locais.Macau tinha, desde os seus primórdios, uma posição central para o estabelecimentodos missionários jesuítas na capital da China e para com a missão do Japão que tevecomo base o entreposto de Macau. Este centro de comércio e de propagação docristianismo apoiou a irradiação da doutrina no extremo oriente e serviria de base deapoio à entrada dos missionários na China, com a sua Diocese criada em 1576, com jurisdição sobre a China e Extremo Oriente e, mais tarde um colégio universitáriocom um novo templo para preparar missionários para a China, Japão e todo oExtremo Oriente(4).
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Fachada da Igreja de Nan Tang, em 1989.O templo foi incendiado em 1775 e em 1900, sendo oseu aspeto atual resultado da reconstrução feita em 1904
A missão portuguesa de Pequim, que se fundara depois de Matteo Ricci obtémfinalmente em 1601 autorização para se estabelecer nessa cidade, depois de váriastentativas malogradas de estabelecimento de relações comerciais e diplomáticas,como o foi a expedição que levou a embaixada de Tomé Pires, em 1518 e 1519, quechegara a Cantão, com o fim de prosseguir até Pequim (5), ou outras posteriores dos jesuítas, desde meados do século XVI, até às conduzidas pelo Visitador AlexandreValignano em finais dos séc. XVI e inícios dos séc. XVII.Em 1650 foi dada permissão imperial para construírem uma Igreja em Pequim, que foidedicada a Nossa Senhora da Assunção e mais tarde, um século depois seria elevadaa catedral da Diocese de Pequim. Sobre a sua fachada tinha inscrito os caracteres
QinKou
, significando “dom imperial” que atestava essa mesma doação
do terreno. A Missão Jesuíta de Pequim, depois do declínio da Dinastia Ming, que se iniciaradesde os anos 20 do século XVII, atravessou períodos de difícil equilíbrio, com oauxílio dado à dinastia em queda, na defesa de Pequim e no auxílio na construção deartilharia, passando momentos críticos, que só conseguiriam ultrapassar graçassobretudo à sua importante presença e influência dos jesuítas junto do Tribunal daMatemáticas da corte e o papel que aí tinham ganho, com o estabelecimento docalendário ou a previsão e cálculo de eclipses.Estes conhecimentos e a existência de um grupo de missionários, em contacto com asciências europeias, permitiu que se desenhasse um movimento que ultrapassou a
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dimensão religiosa que estava na base dessa mesma pretendida evangelização da Ásia. A existência em Pequim, na Missão Portuguesa, de uma biblioteca humanista doRenascimento permitiu conferir outra extensão às relações e o encontro decivilizações ocidentais e do extremo-oriente, como sublinhou André Rétif (6).Já desde Francisco Xavier, nas suas cartas, se acentuava a ideia e o desejo de que osmissionários enviados para o Oriente não fossem ignorantes de astronomia dizendo
para “terem o cuidado de não enviar para o Japão ou a China um
confrade que não
fosse douto”
(7); exigência tal que reforçava a necessidade de se dispor de livros, quemesmo Xavier, à partida de Lisboa, transporta para o Oriente, com cem cruzados delivros fornecidos pelo rei D. João III.Esta preocupação foi também naturalmente sentida por Ricci em Pequim que pedia omesmo. A sua biblioteca de Pequim, na casa da missão jesuíta, que depois foralevada para à igreja de Bei-Tang, da Missão Francesa, tinham livros como o
Astrolabium
do padre Clavius, que o autor dedicara ao seu antigo discípulo, ou o
Theatrum Orbis Terrae
de Abraham Ortelius. Esta biblioteca era bem apetrechada emobras de geometria, relojoaria e astrolábios, mas faltava, como Ricci reconhecia, a
Sphera
de Clavius ou de Piccolomini. Mas esta colecção foi continuada por NicolasTrigault que obteve mais mil ducados do Geral da Companhia, o padre Vitelleschi.Segundo relatos chineses foram cerca de 7000 volumes que chegaram a Macau edepois foram reexpedidos para Pequim, numa quantidade que era extraordinária,mesmo para uma biblioteca europeia na época(8) o que dá uma componente cultural ecientífica aos trabalhos da missão jesuíta. Apesar dos progressos da missão, o cristianismo atravessou um período deperseguições e proibição de 1665 a 1671 que só veio a ser ultrapassado com aascensão do jesuíta belga Ferdinand Verbiest, chefe da Missão Portuguesa, apresidente do Tribunal de Astronomia, pois a influência deste padre era enorme juntoda corte, tendo conseguido mesmo abrir as portas para o estabelecimento de umamissão francesa.O período áureo da presença e influência dos jesuítas na China decorre durante oreinado de Kang-Xi, graças à astronomia e matemática, certamente contribuiu para aassinatura do édito de tolerância do cristianismo em 1692. A Schall sucedeu Ferdinand Verbiest até 1688, ano da sua morte, tendo como vicepresidente Tomás Pereira. Era grande a estima de Kang Xi pelo Pe. Tomás Pereiraque o escolheu para juntamente com François Gerbillon mediar o conflito fronteiriçocom o império russo, o que conseguiu com a obtenção do tratado de paz em 27 de Agosto de 1689, em Nierchinsk (ou Nertchinsk), facto que valeu a Gerbillon e a TomásPereira o título e hábito de Mandarins de segunda classe em 1688(9). A segunda metade do século XVII é pródiga em acontecimentos decisivos, como oenvolvimento do papado e das nações europeias no Continente chinês que não é demolde a deixar que o curso das missões fique apenas na esfera estrita da Companhiade Jesus. Do lado português, D. João IV ( que reinou de 1640 a 1656) ordenara por diversas vezes ao Vice-rei da Índia e ao Arcebispo de Goa que não fossem recebidosmissionários mandados pela Propaganda, tendo mesmo sido reenviados à Europa osBispos de Myra e o Patriarca da Babilonia. Estas suas determinações são tambémseguidas no reinado do seu sucessor, D. Pedro II (regente desde 1667, reina de 1683a 1706). A resposta de Roma não se faria tardar. Clemente X que não aceita estas posiçõesreage com breves e bulas de Clemente X, como a
Silicitude Pastoralis
(22 deDezembro 1673) e a
Decet Romanum Pontificem (23 de dezembro de 1673),
retirandoprivilégios ao Padroado Português ao determinar que os Vigários Apostólicos queeram nomeados pela Propaganda agiriam com independência de Goa e de Lisboa. A
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situação era mesmo levada ao extremo de se proibirem as publicações de livros sem aaprovação da Congregação. As oposições a Roma vêm de Portugal, mas também de Espanha que não aceita aautoridade de Roma e de França que vê nisto uma ameaça ao seu padroado.Só em 1690 é que Portugal alcançariam a última vantagem para o seu Padroado, como Papa Alexandre VIII, que mesmo com a oposição dos cardeais da Propaganda e daSociedade de Missões Estrageiras, reorganizou as missões na China e a Diocese deMacau, criando três dioceses, Pequim, Nanquim e Macau, demarcando as suas áreasem 1695 como dependentes do Padroado Português.Mas esta situação vinha-se já irremediavelmente deteriorando desde a chegada dasordens mendicantes à China. Os dominicanos Angello Cocchi e Tomaso Serrachegam ao Fujian ( Fo-Kien), em 1632. A corte espanhola recusa-se também areconhecer a autoridade da Sociedade de Missões Estrangeiras e da Propaganda e osmissionários franciscanos na China não obedeciam à Propaganda.Os Dominicanos condenam os ritos de culto a Confúcio e aos antepassados, como setratassem de pura idolatria, superstição e paganismo, apesar dos franciscanostolerarem os ritos a Confúcio.É o despoletar da famosa Querela dos Ritos que culmina com a missão papal docardeal Maillard de Tournon, chegado ao Oriente com o fim de impor um decreto papalpara proibir as adaptações iniciadas por Ricci. As tentativas de adoção um conjunto deregras e proibições que impediam, entre outras, de usar os termos confucianos paradesignar o Céu e Deus,
Tian
e
Shang Ti,
vieram apenas agravar as relações entreRoma e a China. O segundo desastre veio a ser o do envio do Cardeal Mezzabarba aoimperador Kang Xi.Depois da chegada do cardeal Charles Maillard de Tournon a Pequim, em Dezembrode 1705, como legado pontifício faz publicar em Nanquim, em Novembro de 1707, umdocumento condenando os rito chineses pelo Santo Ofício, datado de 1704, o quevaleria a resposta chinesa do imperador, ao banir da China, com um decreto doMinistério dos Ritos, todos os missionários que não tivessem o
p’iao
.Nos anos entre 1709 e 1718 o imperador Kang Xi manda fazer a carta do Império aosmissionários. Neste período de relações tensas entre os ocidentais
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missionários e aChina
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a Bula papal de Clemente XI,
Ex illa die,
de 19 de Março de 1715, e publicadaem Pequim a 3 de Novembro do ano seguinte condena os Ritos chineses e obriga osmissionários a juramento, apesar de o Rei D. João V ter intimado o Provincial doJapão, M. Amaral, em 27 de Março de 1715 a não acatar as ordens de Roma
(Nedecreta (romana) circa Ritus in terris Regis Lusitanea publicentur)
(10). As recusas de novas entradas a missionários, deixam reduzidos a 47 os quereceberam a permissão de aí residir e, apenas os que serviam na corte comoastrónomos e matemáticos aí ficam, concluindo em 1719 uma nova carta da China. A situação que se vivia, desde meados do séc. XVII, e os entraves à permanência dosmissionários jesuítas na China, com a gravidade que a Questão dos Ritos Chinesesviria a atingir anos mais tarde, levou-os a suplicar proteção ao imperador Kang Xi,originando o famoso Édito de Tolerância em favor da religião cristã. Mas com a mortede Kang Xi em 1722 e a subida ao trono de Yong Zheng ( que reinou até 1735) asperseguições aos católicos agudizaram-se, depois de um período de relativa acalmiaque não duraria mais de três décadas, após a publicação do Édito de Tolerância de1692, em favor do cristianismo.
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A petição de Tomás Pereira e António Tomás e a resposta que obteve foi depoisdepositada em várias províncias do império e foi também gravada em inscrição àentrada da Igreja de Nan Tang ( ou do sul) em Pequim, como o testemunha estacópia (11) que foi feita desta inscrição, e que se guarda na biblioteca do MuseuGuimet em Paris, com o qual podemos ter mais um precioso documento desteperíodo crítico na história das relações entre a Europa e a China.O acolhimento desta petição por parte do imperador não terá sido alheio ao prestígioque os jesuítas vinham obtendo na corte imperial. Desde 1645 Adam Schall presidiaao Tribunal de Astronomia, cujos ofícios eram fundamentais para o estabelecimentocorreto do calendário, necessário à harmonia entre o universo e o homem, entendida eestendida entre soberano e súbditos, entre pais e filhos.
Página 2 do manuscrito